segunda-feira, 22 de junho de 2009

ATIVIDADE DE SODAGEM SOBRE O PROEJA

O século XX foi o século das mudanças, das transformações, das descobertas, das inovações em todos os sentidos da vida e para a vida. Para o terceiro milênio, como herança, ficou a necessidade de mudar, de transformar o próprio ser humano, para que seja capaz de se encontrar no outro e entender que todos precisam e merecem viver com qualidade de vida, usufruindo igualmente das inovações, cada um respeitando o outro, seu espaço e sua cultura.

Desde a abolição da escravatura, as classes menos favorecidas lutam por justiça social, igualdade, inclusão. Há grupos comunitários, associações, ONG’s, etc, que se organizam em lutas para pressionar o poder público pela criação de políticas capazes de oferecer condições para que isso aconteça. Quando fazemos uma comparação, por exemplo, no campo da educação, nos últimos cem anos, observamos que houve uma evolução bastante acentuada, uma reviravolta muito significativa em termos de inserção das camadas menos favorecidas nas salas de aula, embora saibamos que há, ainda, muito a melhorar.

Consta da Constituição de 1988 que a educação é direito de todos. O atual governo brasileiro é, talvez, o mais engajado que conhecemos, na intenção de erradicar a pobreza, especialmente promovendo a igualdade de acesso à escola, com a criação de programas e políticas públicas. Um dos maiores exemplos que temos, é o Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – PROEJA, que tenta resgatar aqueles que “se perderam” no meio do caminho rumo à educação. É uma proposta de política educacional com objetivo de inclusão social e promoção da cidadania, através do acesso à escola pública de qualidade e gratuita, integrando na comunidade escolar os jovens e adultos que, por algum motivo, abandonaram os estudos entre o ensino fundamental e o médio. Estes voltam reanimados pelo o desejo de reinserção para conclusão do ensino médio, com uma formação profissional que reabra caminho para uma possível colocação ou recolocação no mercado de trabalho, ou até mesmo somente para oficializar uma formação que aumente suas possibilidades de permanência no emprego e até possíveis promoções.

O PROEJA precisa ser mais conhecido para ser mais valorizado pela sociedade brasileira, porque é um programa com objetivos sociais, que busca atender anseios e reivindicações das diversas lutas erguidas por diversos grupos sociais. É um caminho pronto para ser percorrido, explorado, movimentado, utilizado em sua plenitude. Seus objetivos, em sendo alcançados, proporcionarão ao Brasil uma projeção cultural muito positiva dentro do contexto mundial. Será um país com quase a totalidade da sua população capaz de produzir, de efetuar pesquisas e análises, criar e desenvolver tecnologias a serviço da humanidade.

O PROEJA ainda carrega consigo uma responsabilidade, a de ser o protagonista do rompimento com a dualidade no ensino brasileiro. O dualismo no ensino brasileiro ocorre, principalmente, no ensino médio, que foi alvo de muitas reformas que provocaram mudanças estruturais significativas. No início, era difícil o acesso às pessoas não favorecidas com a distribuição das riquezas, do poder e das regalias, para que, não tendo acesso ao conhecimento, também não tivessem condições de analisar e desejar o que se lhes faltava, fortalecendo a distinção e a distância entre ricos e poderes, dominadores e dominados, o empresariado e o proletariado. Assim, já se caracteriza um tipo de dualidade, a que diz respeito ao acesso. Com o passar do tempo, quando o ensino médio ficou mais acessível, sua demanda cresceu, as dificuldades de acesso ao ensino pelas camadas menos favorecidas foram transferidas para o ensino superior e as políticas educacionais direcionadas para o ensino fundamental, em vista de acordos com órgãos internacionais, como o Banco Mundial.

Quando das reformas no ensino médio, a característica da dualidade ficou evidenciada na criação do ensino técnico profissional, pois a própria lei cita seu direcionamento para os “desvalidos da sorte”. Mais tarde, a Lei 5692/71, impõe o ensino profissionalizante para todo o ensino médio, em todas as escolas. Como nem todas as escolas o praticaram com fidelidade, viveu-se nessa época o dualismo “fora da lei”. A Lei 7044/82 restabeleceu a dualidade dos ensinos técnico e propedêutico, cultura técnica e cultura geral. A Lei 9394/96 define as modalidades “ensino normal” e “ensino técnico”, a serem oferecidas pelas escolas do ensino médio no país, podendo, estas, utilizarem as denominações “escola normal” e “escola técnica”, ao trabalharem a modalidade com exclusividade. A formação técnica passou a ser acessível a todos, sem substituir o ensino regular, mas podendo ser realizada de forma integrada. O Decreto 2208/97, rompeu com essa integração, obrigando as escolas a se reestruturarem para oferecê-los em separado. O Decreto 5154/2004, resgata de forma incrementada a LDB 9394/96, restabelecendo a articulação entre os ensinos técnico e propedêutico, podendo ser aplicados em separado ou de forma integrada, concomitante ou subseqüente, acrescentando, ainda, a possibilidade de articulação com os cursos de educação de jovens a adultos, objetivando elevar o nível de escolaridade do trabalhador.

Por fim, o Decreto 5840/2006, institui o Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – PROEJA, abrangendo a formação inicial e continuada de trabalhadores e a educação profissional técnica de nível médio, considerando as características dos jovens e adultos atendidos, podendo, os cursos, serem articulados tanto com ensino fundamental quanto com ensino médio. O Programa objetiva elevar o nível de escolaridade do trabalhador, possibilitar a formação de profissionais que já atuam em áreas diversas sem a devida escolarização.

O Brasil, hoje, apesar de ser um país em desenvolvimento, sempre formado de muitas raças e etnias, culturas e valores, é um país onde grande parte da população é amadurecida, conhecedora dos seus valores, dos seus direitos e está bem avançada no aprendizado da luta para que eles sejam respeitados. A educação e a melhoria da qualidade de vida são sempre buscadas por todos, ou pelo menos, pela grande maioria, acordando os governos para a necessidade do reconhecimento da igualdade em todos os sentidos. O PROEJA é a busca do equilíbrio, que transformou o dualismo em pluralismo, ou seja, hoje, existem muitas portas e muitos caminhos, muitas opções para todos que desejam estudar, em qualquer fase ou idade da vida, ainda com muitas carências e deficiências no ensino público, mas um longo caminho já foi percorrido!

O documento base do PROEJA destaca a educação de jovens e adultos como um campo de conhecimento específico, o que significa a investigação das reais necessidades de aprendizagem dos alunos, ou seja, pode-se simplesmente fazer um plano e determinar o que se vai ensinar a uma criança, porque ela representa um campo praticamente limpo e aberto a qualquer ensinamento, conteúdo e forma didática. Porém os jovens e, principalmente, os adultos já possuem uma gama de conhecimentos arquivados ao longo do tempo já decorrido em suas vidas e não são iguais. Cada um é diferente, cada um possui necessidades de aprendizagens diferenciadas.

No filme “Escritores da Liberdade”, é possível observar uma educadora numa sala de aula, com jovens oriundos dos mais diversos problemas sociais, todos necessitando de especificidades na forma de contato, de ensino e com muitas rejeições entre eles mesmos. A educadora, com muita sabedoria, cria uma metodologia, uma didática própria para lidar com eles, que foi capaz de conciliar o ensino aprendizagem com as necessidades e especificidades de cada um, atingindo um resultado inesperadamente favorável e satisfatório.

Observamos também no filme “Meu Nome é Rádio”, um educador que, deparando uma situação de exclusão social, lança mão de toda razão humana existente dentro de si, para incluir um deficiente numa escola cheia de preconceitos e preconceituosos e os resultados alcançados foram excelentes.

Para ser um educador, principalmente dentro do PROEJA, é preciso, antes de tudo, ser humano, ser capaz de descobrir a humanidade existente em cada educando da mesma sala, suas especificidades e necessidades de aprendizagem, a capacidade de aprender e ensinar de cada um e, especialmente, qual é a base, o alicerce, a vida e a vivência que cada um traz em si e a partir de onde trabalhar tudo isso de forma comunitária, a favor deles e acoplado a um programa de ensino pré-imposto pela escola, pelo Estado.